quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Solo para Pina Bausch - Caetano Veloso brilha em festival da coreógrafa alemã

Wuppertal, Alemanha - O doce bárbaro de Santo Amaro fechou sua turnê européia de 2001 participando no dia 14 de outubro do festival internacional de cultura organizado pela prestigiada coreógrafa Pina Bausch e sua companhia, o Wuppertaler Tanztheater. Caetano, que já tinha sido em 1998 uma das maiores estrelas das comemorações dos 25 anos do grupo de Pina, fez um show solo em que se deu ao requinte de interpretar canções em francês, italiano, espanhol, inglês e, claro, português, encantando do começo ao fim uma platéia tão serena, quanto extasiada

----------------------------------------------------------------------------------

Era uma homenagem das mais condizentes à essa artista que possui bailarinos das mais diversas partes do mundo e que surpreende Caetano desde a montagem que ele assistiu anos atrás de «Um Grito Ouviu-se na Montanha», no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. «Fiquei completamente apaixonado pelo espírito da obra dela, que tem uma vida impressionante, rara em artes da representação», afirmou Caetano, que já tinha gravado a marchinha carnavalesca «Dama das Camélias», de Braguinha e Alcir Pires Vermelho, como um tributo à Pina em seu álbum «Omaggio a Federico e Giulietta», de 1999.

O festival deste ano, que aconteceu de 12 a 28 de outubro, trouxe como destaques o coreógrafo e dançarino japonês Saburo Teshigawara, o violinista húngaro Félix Lajkó, além do diretor espanhol Pedro Almodóvar, que terá três de seus filmes exibidos no evento. Outro brasileiro convidado por Pina Bausch para a mostra de cultura foi o percussionista pernambucano Naná Vasconcelos. Vários espetáculos de Pina foram reapresentados como «Os Sete Pecados Capitais», «Venha Dançar Comigo», «O Dido», além da sua última peça, inspirada no Brasil, que ela vem apresentando pelo mundo afora com sucesso.

Carisma à toda prova

O show de Caetano Veloso bem que poderia ter durado mais do que os seus setenta minutos. A platéia que lotou os setecentos lugares da Schauspielhaus pagou cerca de oitenta reais pelo ingresso e parecia não querer voltar mais para casa, depois que ouviu «Coração Vagabundo», «Cajuína», «Menino do Rio», «Terra» e a porto-riquenha «Lamento Borincano», dentre outras. A inclusão no roteiro de «Manhatã», composição que Caetano escreveu sobre Manhattan, Nova York, extraída do disco Livro, de 1997, foi muito oportuna, dando densidade comovente ao concerto, com seus versos tornados mais trágicos depois dos ataques ao World Trade Center: «todos os homens do mundo/ voltaram os seus olhos para aquela direção» (...) «e aqui dançam guerras/ no meio da paz das moradas de amor».

Caetano iniciou sua performance com muita timidez, mas a reverência a Bertolt Brecht e Kurt Weill com Stars Fall on Alabama já insinuava que o tropicalista estava afiado para o evento. E o cenário não poderia ter sido mais feliz, com um rochedo litorâneo criado por Peter Pabst para Masurca Fogo, peça encenada minutos antes. Ali, como que à beira-mar, Caetano foi de «Qualquer Coisa» a «Leãozinho», espalhando aquele sorriso largo que os caricaturistas tanto adoram. Desacostumado com tanta passividade da platéia, o artista começou a instigar os poucos brasileiros presentes a subverter o silêncio do público, no que foi atendido prontamente.

O grande momento da noite nasceu de um comentário que Caetano fez para Peter Pabst à época em que ele tinha assistido Masurca Fogo pela primeira vez, em São Paulo. O cantor e compositor baiano tinha imaginado que cantava «Garota de Ipanema» na cena em que as bailarinas do espetáculo aparecem deitadas sobre o rochedo. Resultado: o coreógrafo topou com entusiasmo a sugestão involuntária de Caetano e quando o músico começou a cantar o clássico de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, as meninas de Pina reentraram no palco para se banhar ao sol sobre as pedras do cenário. A platéia foi ao delírio e com ela um Caetano em total estado de graça.

Pina Bausch nasceu em 1940, na cidade de Solingen. Com a sua coreografia, levou a dança para fora de suas velhas formas e, como diretora do Tanztheater da cidade de Wuppertal, cunhou o novo conceito de dança-teatro. Entre 1955 e 1958, estudou e formou-se em dança na Escola Folkwang da cidade de Essen, sob direção de Kurt Jooss. Entre 1959 e 1962, estudou dança nos EUA, onde trabalhou, entre outros, com Paul Taylor e Antony Tudora. Em 1962, retorna à Alemanha a pedido de Kurt Jooss e torna-se bailarina no Folkwang-Ballett recém-inaugurado por ele. Em 1968, realiza sua primeira coreografia para o Folkwang-Ballett: “Fragment”. Entre 1969 e 1973, foi diretora artística, coreógrafa e bailarina do Estúdio de Dança Folkwang (1971),“Aktionen für Tänzer”, 1972 “Thannhäuser”, “Bacchanals”). Em 1980 realizou o primeiro trabalho conjunto com o cenógrafo Peter Pabst. A partir de 1983, assumiu a direção artística do Estúdio de Dança Folkwang, cargo ocupado até hoje. Entre 1983 e 1989, dirigiu o departamento de dança da Folkwang Hochschule em Essen. Em 1973 foi nomeada diretora do Ballet der Wuppertaler Bühnen, rebatizado de Tanztheater Wuppertal, mantendo-se até hoje no posto (com repertório que conta entre outros com os seguintes espetáculos: Fritz, 1974; “Blaubart” (Barbazul), 1977; “Café Müller” e “Kontakthof”, 1978; 1979, “Árias”; “Bandoneon”, 1980; “Walzer” e “Nelken”, 1982; “Viktor” 1986; “Palermo, Palermo” 1989; “Der Fensterputzer” (Limpador de vidraças), 1997; “Masurca Fogo”, 1998; “Aqua”, 2001; “Die Kinder von gestern, heute und morgen” (As crianças de ontem, hoje e amanhã), 2002; “Nefés”, 2003, em trabalho conjunto com o International Istanbul Theatre Festival e a Istanbul Foundation for Culture and Arts, 2004 "Ten Chi", 2005 "Rough Cut".)

Nenhum comentário:

Postar um comentário