domingo, 25 de outubro de 2009
Jan Fabr / Terzake - The Orgy of Tolerance
UMA TRIBO, É ISSO QUE EU SOU
Jan Fabre
diálogo para duas vozes
Voz 1
Uma tribo
É isso que eu sou
Esse "eu" estranho
Que nunca a civilização
controlou
Eu vou limpar minha alma
Para me renovar
Para cair
E para me torturar
Com uma dor de dentes insuportável
Com gengivas inflamadas
E uma terrível câimbra nos maxilares
Que me absorve totalmente
E me faz romper com tudo
Até o ponto de não
Tocar mais a vida
Até o ponto em que o desaparecimento se revela
Eu vou limpar a minha alma
E não vou parar
Antes de encontrar a paz
Antes de parar de me perder nos meus pensamentos
Antes de me libertar da dor de ser livre
Essa dor ardente
Sentir os pensamentos que se deslocam
Estar sempre a caminho
E jamais parar
Em mim
Eu não vou parar de
Limpar minha alma
Camada após camada
Até que reste apenas
A calcificação esférica
De um único pensamento
Eu sou um espírito queixoso
Que não sabe como agir
E que toma sempre o caminho incerto
Da mortificação delirante que é sua vida
que gravita apenas nos despenhadeiros escarpados
Para examinar o eestrangulamento do seu ser
Pssss, pssst, pssst, pssst, pssst
Pssss
Eu sei
Eu perdi a minha língua
Mas isso não dá a vocês
o direito de continuar
Eu desconfio
Dessas merdas permptórias
Que etiquetam
As criações e o pensamento
Pssss, pssst, pssst, pssst, pssst
Pssss
Eu desconfio dos cantores de ópera
Esses funcionários gordos e
bem pagos
que escarram sons em sua alma com
a precisão de flechas castradas
Pssss, pssst, pssst, pssst, pssst
Pssss
Eu desconfio dos compositores
Essas putas de opretas que vomitam notas
E copiam uns dos outros as
Melodias afetadas
A golpes de mouse no computador
Pssss, pssst, pssst, pssst, pssst
Pssss
eu desconfio dos atores
Esses travestis maquiados demais
Que só sabem falar quando
Alguém lhes escreve um texto
e pareecem papagaios mecânicos
Pssss, pssst, pssst, pssst, pssst
Pssss
Eu desconfio dos escritores
Esses escrevinhadores plagiários
Que deixam seu espírito traicado girar
Ao sabor dos ventos, como cata-ventos
Pssss, pssst, pssst, pssst, pssst
Pssss
Lá onde outros propõem criações
Eu só quero mostrar
Meu espírito implicante
Eu não quero mais lamentar isso
Pois eu perdi a minha língua
Pssss, pssst, pssst, pssst, pssst
Pssss
O que estou fazendo?
Talvez eu tenha apenas uma tarefa!
Eu mordo a mão de Deus
Eu não solto os dentes
Continuo a morder até ser lavado
Pelos jatos de sangue de Deus
eu não devo me purificar
Porque ele me cega
Estou destinado a ser um vidente
Que não vê
Eu erro
Eu flutuo
Voz 2
Há muito tempo não vejo mais a terra
Mas meus pés estão cheios de bolhas
Voz 1
Eu não parar
Camada após camada
Eu vou limpar minha alma
até que resta apenas
a calcificação esférica
de um único pensamento
Eu sou o velho cão
selvagem
Que vê as cores do arco-íris
E que geme e chora sob a lua e
Sob o sol
Pssss, pssst, pssst, pssst, pssst
Pssss
Um esqueleto destroçado
Envolvido por músculos finos e ardentes
Raquíticos e crispados
Como se fosse feito de vidro
E frágil
(...)
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Sou apaixonada por este artista! Pena que é tão difícil conseguir acesso a seus livros e DVD's aqui no Brasil!
ResponderExcluirThe Orgy of Tolerance é uma das minhas peças preferidas.
Você tem mais alguma coisa dele?
Beijos!